Neste mês de novembro, nossa coordenadora e idealizadora do Semente Amarela, Ângela Mattos, escreveu uma matéria para a revista Proteste sobre gravidez na adolescência.

Com o título, Acolher para amadurecer, a matéria aborda como devem proteger, informar e educar nossas crianças e adolescentes sobre sexualidade e gravidez, além de apresentar os dados preocupantes do Ministério da Saúde sobre o número de gestações em jovens entre 10 a 20 anos incompletos.

 

Leia abaixo a matéria na íntegra:

 

A adolescência é um reflexo da infância vivida, segundo a Escola da Educação Positiva (EEP). Portanto, falar de acolhimento e prevenção da gestação na adolescência é refletir sobre uma construção relacional, que começa ainda dentro do útero materno. A infância deve ser baseada em respeito, nutrição física e emocional, conhecimento fisiológico, proteção e intimidade, práticas necessárias a fim de que a criança se torne um adolescente mais estruturado para atuar no espaço fora de casa. Assim, a adolescência, com toda a sua potência e o seu espírito de busca, terá alicerce de autoconhecimento para a travessia. O que foi recebido através de ações efetivas vai se intensificar — exemplos e experiências vividas.

Durante muito tempo, a adolescência não foi valorizada como grupo. Mas hoje é vista de forma especial na maioria dos países. Ainda que não seja um problema novo, a gravidez na adolescência tem chamado a atenção e preocupado especialistas. Dados do Ministério da Saúde mostram que os adolescentes — indivíduos com idades entre 10 e 20 anos incompletos — representam entre 20% e 30% da população mundial, estimando-se que no Brasil essa proporção alcance 23%. A taxa mundial de gravidez adolescente é estimada em 46 nascimentos para cada mil meninas de 15 a 19 anos. No Brasil, um em cada sete bebês é filho de mãe adolescente.

A cada hora, nascem 48 bebês, filhos de mães adolescentes. O número de bebês com mães de até 14 anos contabilizou 19.330 nascimentos no ano de 2019, o que significa que, a cada 30 minutos, uma menina de 10 a 14 anos torna-se mãe.

A gestação não planejada na adolescência pode resultar da falta de conhecimento da jovem sobre a sua saúde, as consequências na sua vida e o acesso limitado aos métodos contraceptivos eficazes. Das gestações que ocorrem na adolescência, 66% são não intencionais. Ou seja, a cada dez adolescentes que engravidam, sete justificam ter sido “sem querer”. Diante disso, diversos fatores concorrem para a gravidez na adolescência. Porém, a desinformação sobre sexualidade e direitos sexuais e reprodutivos é o principal motivo. Questões emocionais, psicossociais e contextuais também contribuem, inclusive, para a falta de acesso à proteção social e ao sistema de saúde, incluindo o uso inadequado de contraceptivos, como métodos de barreira e preservativos.

A garantia de desenvolvimento integral na adolescência e juventude é uma responsabilidade coletiva que precisa unir família, escola e sociedade para se articularem com órgãos e instituições públicas e privadas na formulação de políticas públicas de atenção integral à saúde em todos os níveis de complexidade.

Portanto, a prevenção da gravidez durante a adolescência exige esforços dos distintos setores públicos responsáveis pela formulação e pela implementação de políticas públicas, que têm como perspectiva central os direitos humanos, mas demanda também o envolvimento de todos os setores da sociedade civil.

A permissividade é maior na sociedade atual, em que as demandas de trabalho e a falta de tempo não permitem a interconexão entre os familiares, gerando culpa pela falta de presença. Os meios de comunicação constituem fonte de estimulação sexual para jovens.

Nas famílias, os tabus persistem e ainda constituem exceção os pais que discutem sexo com seus filhos adolescentes. Eles iniciam a vida sexual sem os conhecimentos mínimos sobre a fisiologia da reprodução e a concepção e, muitas vezes, as fontes de informação são os próprios amigos ou os meios de comunicação, que, em geral, fornecem conhecimentos incompletos e inexatos. Acrescente-se ainda a falta de disponibilidade de serviços de planejamento familiar próprios para adolescentes.

Tratar a gravidez na adolescência sob uma perspectiva preventiva e de atenção integral, desde a tenra infância, proporciona à menina e ao menino o exercício da vida sexual e reprodutiva com base em valores e comportamentos mais autônomos, com decisões mais responsáveis, além da construção de projetos de vida de longo prazo. Educar as novas gerações é semear futuros mais saudáveis.

 

Texto: Angela Mattos

 

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